Postagem em destaque

"Style, é uma maneira de dizer quem você é, sem ter que falar." (Rachel Zoe) Se você for ligado no mundo fashion, certamente sabe ...

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Uma performance e um gatilho mental

Um brinde "à arte de sorrir cada vez que o mundo diz NÃO"


Esses dias assisti um vídeo. É um show de calouros, em alguma parte do mundo, talvez da franquia do produtor inglês, Simon Cowell. Não pesquisei porque os bastidores não eram importantes, mas sim a performance da candidata e a reação dos jurados.
Trata-se de uma artista plástica. Ela desenha um rosto que, curiosamente, vai se metamorfoseando nos diferentes rostos dos jurados, confundindo a plateia. Ora, isto por si, já suscita o interesse e a curiosidade, porque obviamente a artista, não passou por todo um processo burocrático, cheio de regras, entraves, triagem e concorrência, para desenhar simplesmente o busto de um jurado. 

Paralelamente ao desenho, tem todo um jogo performático de olhares na direção dos jurados, e fica claro que tal gestual é importante, criando um clima para o grand finale. Mas o grupinho de jurados, claramente não gosta de se ver retratado na tela. Para mim fica parecendo uma reação comum a uma foto ruim de nós mesmos. Aquela cara de decepção: naaaaaão, eu não sou assim, sou mais bonita. Algo assim. Eles se entreolham confusamente, até que um deles bate a mão na sirene que, automaticamente, acende uma luz vermelha, significando rejeição e desclassificação. Mas a artista segue imperturbável, com seus olhares e sorriso enigmático de quem esconde um segredo. Se ela fica perturbada, não o demonstra, e só por isso, para mim, já merece palmas. A sirene continua a soar. Um a um os jurados foram batendo a mão, e as luzes vermelhas cintilavam no palco. 

A obra está no final. Na boca do rosto desenhado, a mão da artista traça um pormenor confuso, sujeito à interpretação de cada olhar. Eu vi um palco, e uma mulher em um longo vestido branco, parecendo descer uma escada. O último risco é em giz preto que é passado na metade do desenho inteiro. Ela vai riscando e cobrindo o desenho, num gesto de vai e vem. O mistério segue até o final. De repente ela pega a tela do cavalete, vira-a de ponta cabeça, recoloca no suporte, joga um pó branco, cobrindo o desenho e formando como que uma fumaça branca em torno. Por fim ela sacode a tela, e sua arte se revela. Após toda uma metamorfose complexa, envolvendo a feição de cada jurado, a face estilizada do jurado mais jovem, o único que usa barba. 'Mas onde estava aquela barba?' Me pergunto. 'Ah, seria a mulher de branco, depois coberta com preto?' Foi como uma mágica feita com lápis, giz de cera, talento e técnica. O público delira e estrondosas palmas ecoam. A camera mostra o rosto apalermado do grupo de jurados sem noção.  

O ponto é que este vídeo ressoou em mim como um gatilho de indignação, diante do julgamento precipitado daquelas pessoas que teoricamente estão ali, foram escolhidas porque têm uma sensibilidade apurada para a arte (ou não?). O que eu vi foi um grupo de gentinha de mente bem limitada, desrespeitosa. Gente que se acha melhor, porque segue regras, segue o que acham ser o certo, ou o que chamam de ciência, ou que seguem a Bília, convenções sociais e familiares. Pessoas que exigem que você se curve à sua pretensão de sabedoria, que usam outros para se mostrarem superiores e melhores, fazendo disso um show de marketing pessoal. Este tipo de gente que o tempo todo aponta defeitos nos outros, parasitas sociais que chamam a atenção da galera para mostrarem os defeitos que eles vêem naquela pessoa, quando na verdade o que pretendem é se exibir e dizer: vejam esse porcaria aí e percebam como eu sou o bom, o cara.

Felizmente a cegueira da vaidade reina nestas pessoas, não as deixando enxergar um princípio fundamental: ações dizem mais que palavras e a podridão que este tipinho esconde, sob o verniz da falsidade e hipocrisia, vem à tona quando criticam o outro, sem nenhum respeito, ou um pingo sequer de compaixão, sem qualquer empatia ou consideração pela pessoa que o outro é e tem o direito de ser. E foi assim que este vídeo ressoou dentro de mim como um grito: BASTA!

Comente com o Facebook:

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Este espaço é seu.
Opiniões serão bem vindas. Peço apenas que seja educado. Obrigada, volte sempre.